FRAIBURGO

24 julho 2012

Uma Boa Leitura. Recomendo.


Ele era possuidor de um ótimo emprego. Diretor de criação de uma das maiores empresas de publicidade do mundo, ganhava muito bem e vivia na mansão da família com sua mulher e 4 filhos. 


Para ele só existia o seu mundinho. Era servido por um batalhão de subalternos e não aceitava pessoas de classe menos favorecidas ao seu lado. Frequentava festas onde eram servidos os mais finos pratos e as mais caras bebidas. Ao seu redor pessoas ocupantes dos mais altos cargos nas maiores empresas mundiais. Ele não viu o seu tempo passar.

Após 25 anos de trabalho árduo e com dedicação total, foi demitido, sem dó nem piedade, por uma funcionária por ele treinada. Alegava que ele estava velho e ultrapassado.


Neste mesmo período de sua vida descobriu ser portador de um tumor cerebral. Para piorar ainda mais as coisas, por um descuido(?), arranjou um novo filho fora do casamento.


Divorciou-se e com isso perdeu tudo. Mulher, filhos, patrimônio, clientes, amigos e principalmente sua moral. Ficou sem rumo.


No livro Como a Starbucks Salvou Minha Vida, Michael Gates Gill conta a sua real e verdadeira história de vida.


Aos 63 anos, falido, sem plano de saúde, e sem perspectivas de vida, teve a sorte de se encontrar com Crystal Thompson (nome fictício adotado no livro), 28 anos, negra, gerente de uma loja da Starbucks,  e esta lhe oferece um emprego em sua cafeteria, localizada no Harlem em Nova York.


Ele aceitou mas teve que começar do zero e isso mudou a sua vida.


É ali que ele descobre que precisa abandonar os seus preconceitos mesquinhos, adotar novos valores e se nivelar à dura vida que as classes menos favorecidas enfrentam todos os dias. Andar de condução para se deslocar pela cidade, limpar banheiros, atender clientes de todas as idades e classes sociais e encontrar satisfação nas pequenas tarefas do dia a dia.


Ele aprende que aquilo que se faz com amor e sinceridade, dentro relações e princípios de respeito e dignidade é o que mais importa.


Recomendo este livro a todos. É um bom exemplo de como os acontecimentos, por piores que sejam, podem nos oferecer algo de muito bom.

Boa Leitura.

Um grande abraço a todos.

23 julho 2012

Prova de vida - Joaquim Ferreira dos Santos


Permito-me reproduzir aqui, o que escreveu e publicou hoje no Jornal O Globo,  o Sr. Joaquim Ferreira dos Santos. Matéria gostosa de ler. Tem sentido o que ele argumenta. Muito sentido!

 

Quando o caixa eletrônico questiona a sua existência

Meu prezado banqueiro, deixe eu me apresentar sem mais delongas e rapapés.

Eu sou um brasileiro como outro qualquer, estatura mediana, sete graus de miopia, ombros arqueados pelo peso do mundo, um zé joaquim que não vem ao caso esmiuçar. Nada de importância, nada que se me destaque o semblante, o olhar meio para baixo, as contas e as obrigações. Apenas mais um. Zero de significância social, rosca de pompa e neris de circunstância.


O que eu quero lhe dizer, meu banqueiro, é que acabei de chegar do seu banco, cheio de roletas antimetal, e o que me assucedeu calou fundo. Deve acontecer diariamente com milhares de outras pessoas, deve ser o jeito executivo de vocês irem direto ao assunto. Mas me foi a primeira vez e, se a moça da propaganda não esquece o sutiã, eu tenho o direito de lembrar a primeira vez em que alguém, sem sutileza, executivamente cru, falou: ‘Bicho, você está com o prazo de existência vencido’.

Sou, como estava dizendo, um senhor passado nos anos, portador da chamada idade provecta. Por tais contingências já somo uma caminhada que sei lá por que não desmaia, uma trajetória já quase tão mais comprida quanto a Restinga de Marambaia.


Por essa insistência em ficar de pé por tantos anos, embora a toda hora me estalem os ossos dos joelhos, eu acabei tendo direito a uma aposentadoria. À cata dela, e é isso que me faz lhe endereçar estas maltraçadas, todo mês vou ao seu banco retirar os caraminguás.Neste ponto nós dois nos encontramos, o zé joaquim qualquer e o grande doutor banqueiro, em mais um acerto daquela teoria de que todas as pessoas estão próximas por seis graus, seis passos, seis pessoas, sei lá.
 
Desculpe se tergiverso e tento falar bonito. Pois, então, é isso. Eu pego os caraminguás da aposentadoria no caixa eletrônico de seu banco. Raspo o quase nada de uma vez. Ponho num bolso bem escondido do paletó e, antes de me pôr à rua, investigo — eu leio jornal, vejo o “RJ TV” — se não está por perto algum esperto do golpe da saidinha. Ando em zigue-zague pela calçada, olhando para os lados e para trás. Percorro um quarteirão que tem cinco farmácias e faço a pesquisa de preço, de quanto vai o Motillium, o Pantoprazol etc. Em meia hora gasto a aposentadoria em comprimidos, graças aos quais estou de pé, respirando, enfiando o cartão no seu caixa e tentando retirar o que me cabe.
 
Digo “tentando” porque semana passada, no ritual do início do mês, enfiei o cartão na máquina, batuquei na lataria enquanto ela acordava, digitei a senha — e foi aí que a sua tela me alertou em letras garrafais: “Cartão bloqueado. Dirija-se ao caixa e dê prova de vida.”
 
Eu pensei que fosse alguma pegadinha do “Fantástico”. Uma câmera dentro do caixa eletrônico devia estar filmando a reação do aposentado diante daquele teste de existência proposto por uma lata de luz e teclado. Julguei estar ouvindo as gargalhadas sinistras de filmes com mortos-vivos. Pensei em esboçar um sorriso, sair bem no programa e desmentir com inteligência superior a suspeita da máquina — mas foi aí que eu pisquei, doutor banqueiro.
 
E se a máquina estiver certa?

E se ela tiver acesso a bancos clínicos, institutos médicos legais, fontes celestiais e, cérebro eletrônico, for mais bem informada do que eu?

E se o cartão de vida já estiver definitivamente bloqueado e você, como na piada do adultério, foi o último a saber?


E se o aviso fosse mais um desses serviços que os bancos oferecem sem lhes ser pedido e pelos quais cobram centavos, que se somam aos centavos de outros milhões de aposentados, e no balanço de fim de ano dão lucros de bilhões de reais?


Bancos são funcionais, raciocinam matemáticas e não questões filosóficas como a que a máquina me propunha. De índole prática, ela me deixava sem o dinheiro, o que talvez já confirmasse a notícia. No novo plano espiritual a que estava sendo anunciado, eu não precisaria mais dessas coisas materiais.


Fiquei diante da máquina pensando que provas de vida eu daria — chutar-lhe-ia as canelas, colaria um chiclete na tecla “enter” — mas, cabisbaixo, como se me declarasse culpado, não encontrei boas saídas para passar no teste e ter o cartão existencial desbloqueado.


Que homem se apresentaria, hoje, diante de uma banca formada por caixas de banco, psicanalistas, ou qualquer tribunal de felicidade, para ser submetido com profundidade a um teste de vida? Qualquer tribunal que perguntasse em primeiro lugar qual o tempo que cada um tem disponível para se divertir, zerar o QI, buscar o prazer do jeito que lhe aprouver, seja escrevendo estas palavras difíceis, jogando gamão, fazendo sexo ou simplesmente indo ali molhar a ponta do dedo no mar de Ipanema só para dizer à mulher que o acompanha, “eu tô maluco ou esse aquecimento do planeta está deixando a água cada vez mais fria” — e os dois, de bobeira, cairiam na gargalhada.

Eu não sei dos poderes de um computador dentro de um caixa eletrônico, meu caro banqueiro, mas fiquei com a impressão de ele ter me registrado em frente ao terminal, digitando a senha ao mesmo tempo em que procurava mensagens na internet do celular e fazia sinal para o táxi, estacionado na calçada, continuar me esperando. O caixa eletrônico deve ter percebido o tumulto de minhas intenções, a correria sem sentido, os trabalhos sempre atrasados, os amores sempre maltratados, e por alguns centavos disparou o alerta zombeteiro duvidando que, com uma rotina dessas, eu ainda me considerasse vivo. (Na próxima semana, no guichê da agência, a bancária de óculos e sorriso irônico faz as questões do teste de vida.)




Um grande abraço a todos.

19 julho 2012

Educação x Humanismo


“Caro professor:

Sou um sobrevivente de um campo de concentração. Meus olhos viram o que nenhum ser humano deveria testemunhar: câmaras de gás construídas por engenheiros ilustres; crianças envenenadas por médicos altamente especializados; recém-nascidos mortos por enfermeiros diplomados; mulheres e bebês assassinados e queimados por gente formada em ginásio, colégio e Universidade.

Por isso, caro professor, eu duvido da educação. E eu lhe formulo um pedido: Ajude seus estudantes a se tornarem humanos. Seu esforço, professor, nunca deve produzir monstros eruditos e cultos, psicopatas e Eichmans educados.

Ler, escrever, aritmética são importantes somente se servirem a tornar nossas crianças mais humanas.”

Carta hipotética escrita por um sobrevivente endereçada ao Professor Janusz Korczak.

Acho que é isso que as instituições de ensino  estão precisando atualmente.

Abraço a todos

18 julho 2012

Boa Viagem Seu Rogê!

Hoje, 18 de julho de 2012,  é um dia triste para Fraiburgo. Até o sol se escondeu em algum cantinho do céu para chorar. As nuvens estão paradas e escuras, sem votade de ir embora ou derramar a sua chuvinha de sempre. Faz frio. Muito Frio.

Tudo isso,  me parrece,  é porque o Seu Rogê foi para sua casa, na França. Junto levou sua sempre e fiel companheira D. Eveline.


Sentiremos a sua falta, seus conselhos e sua amizade.


Fique com Deus D. Eveline. Fique com Deus Seu Rogê.


Desejo que sejam felizes junto aos seus amigos e familiares.



Um grande abraço.

Ari








Vídeo com um pequeno resumo da história do Sr. Rogê em Fraiburgo está disponível no blog da Jornalista Juciele Marta Baldissarelli :  http://jucielebaldissarelli.blogspot.com.br/

12 julho 2012

Roger Biau: Muito Obrigado!



Roger Biau: "Um homem que saiu da guerra e veio 
                     plantar o fruto do amor,
                     numa terra de amor". 


Conheci o Sr. Roger Biau em 1969, num dia nublado e muito frio, quando minha turma de escola fez uma visita (excursão) para conhecer os pomares que estavam em implantação, na nova cidade que despontava no cenário econômico e social, aqui no meio oeste catarinense.



Implantação Pomares
Depois de nos apresentar os pomares e nos expor suas ideias sobre a fruticultura no município, ele nos levou para conhecer a sua casa. Aliás, acho que estou cometendo um equívoco. Não era a sua casa. Era o seu CASTELO. Vivia ali com sua família e todos nos receberam com muito carinho e simplicidade, o que lhes é peculiar.


Castelinho. Construído por Roger Biau em Fraiburgo.
Chamado carinhosamente por todos que o conhecem de Seu Rogê, homem simples, alegre, sorridente e com um jeito todo especial de nos mostrar seus experimentos com as várias árvores frutíferas de clima temperado, imediatamente me encantou.

Eu era muito jovem e não sabia ao certo que rumo tomar na vida e aquele homem "diferente", influenciou diretamente em minha decisão de vir morar e trabalhar aqui em Fraiburgo.

Anos depois de aqui chegar tive a honra de trabalhar e tornar-me amigo deste grande homem.

Roger Biau e suas Maçãs

Trabalhar ao seu lado era fazer uma viagem diária no rumo certo do conhecimento, do profissionalismo, da vida e de, acima de tudo, aprender  que as pessoas e as coisas devem ser tratadas com amor, carinho e simplicidade.

Além de um grande cientista Seu Rogê é um grande ser humano. Se hoje Fraiburgo é a Capital Brasileira da Maçã, este título é seu Sr. Seu Rogê. Todos sabemos disso e o respeitaremos para sempre.

Obrigado Seu Rogê por tudo o que me ensinou e por todos os conselhos que sempre me deu. Seu exemplo é uma coisa que pretendo disseminar sempre.

Este dia 18 de julho ficará marcado na história do povo de Fraiburgo. Vá com Deus Seu Rogê. Desejo ao Sr. muita saúde e vida longa. Curta as suas realizações e as suas merecidas férias junto aos seus familiares e compatriotas.

Só não se esqueça de uma coisa: aqui em Fraiburgo, o Sr., Seu Rogê, tem uma imensa legião de admiradores.

Um abraço especial para o Sr. Seu Rogê.

Com muito carinho,

Ari Antônio Guindani

11 julho 2012

Iomerê: Cadê nossa Praça?

Esta praça não existe mais. Ficou somente na lembrança dos bons tempos e as fotos dos amigos.


É lamentável.

Foto:Yury Hentz

Meu querido falecido Pai Armando, cuidou com muito carinho desta praça, desde a sua implantação até o início dos anos 80. A tesoura de podas, presente do então  Prefeito Waldemar Kleinobing, é a única lembrança física que tenho, do trabalho que meu Pai ali exerceu. Com ela ele conduzia, com todo o carinho, as árvores ali plantadas, muito pequenininhas, para que aos poucos se integrassem ao conjunto elaborado e pré-estabelecido, por arquitetos renomados, para aquela praça. Foi ali, por muito tempo que ele exerceu a sua paixão pela natureza.

Fica porém, em nossa memória, a lembrança dos tempos aí vividos, onde aquela praça era o local de encontro de todos os jovens da então pequena, mas saudável localidade. Jovens que ali se instalavam para tomar saborosos sorvetes caseiros, especialmente os de sabor de uvas, fornecidos pela Sra. Comelli ou pelo Sr. Penso. Jovens que ali acorriam nos finais de tarde e nos finais de semana, onde uns brincavam, outros namoravam e outros ainda simplesmente conversavam em rodas de amigos. Jovens que ali sonhavam com o seu futuro e delineavam seus projetos de vida. Tudo isso em um cenário maravilhoso e cercados por flores e por árvores.

Ver o trabalho e as lembranças de uma vida, serem perdidas por conta de um "progresso" e uma "revitalização" tão "burra",  é lamentável.

Pelo menos ficam as lembranças. Estas ninguém poderá nos tirar.

Um grande abraço a todos.


02 julho 2012

Paulo Sant'ana

Há muitos anos acompanho o jornalista gaúcho Paulo Sant'ana. Seu jeito despojado e inteligente me fascina. Gremista doente, ele escreve coisas simples, mas com uma profundidade que poucos são capazes de alcançar. O texto, que foi publicado em Zero Hora de 02/07/2012, nos mostra isso. Foi um discurso/homenagem que ele fez a um amigo quando participou dos festejos de seu aniversário, neste final de semana. Vale a pena ler até o fim e refletir.

"Desce a adolescência, estudei filosofia, mas nas horas vagas cumpri religiosamente um vício adquirido na infância, no casario da Chácara das Bananeiras, o vício do jogo.

Jogávamos bambá, quatro rodelas de casca de laranja, de um lado elas eram amarelas, do outro brancas. Atirávamos para o ar as quatro rodelas, se caissem no cháo duas amarelas e duas brancas, ganhávamos, se caísse uma só amarela ou branca, perdíamos.

Inicialmente jogávamos por objetos, mais tarde passamos a jogar por dinheiro. E por dinheiro joguei pife-pafe, pontinho, pôquer, joguei de tudo.
Hoje, tornadas ilícitas todas as apostas, viciado em maquininha que sou, obriguei-me só a apostar no turfe, único jogo permitido, sei pouco dele, mas é o único lícito no meu país, junto com as loterias.

E jogo muito em loterias. Mas entre todos os vícios que tenho, inclusive o cigarro, o vício mais insistente que tenho, o mais incurável, o vício que vai  me levar para o túmulo é o de cultivar e amar os meus amigos. Aprendi filosofia e a emprego somente em conviver de modo devotado com meus amados amigos".

Precisa-se de uma mensagem e um presente melhor que isso?

Abraço a todos.

Lembrete


Cuidado.

Em época de eleições municipais, nunca é tarde lembrar Rui Barbosa:


        "De tanto ver triunfar as nulidades,

        de tanto ver prosperar a desonra,

        de tanto ver crescer a injustiça,

        de tanto ver se agigantarem os poderes nas mãos dos maus,

        o homem chega a desanimar da virtude,

        a rir-se da honra,

        a ter vergonha de ser honesto."

Abraços e boa semana.