FRAIBURGO

04 julho 2013

Sessão Extraordinária da Câmara Municipal de Fraiburgo

Tomo a liberdade de publicar, na íntegra, a análise efetuada pelo nobre advogado fraiburguense Dr. João Marques Vieira Filho, sobre as manifestações populares ocorridas em 01 de julho de 2013, em movimento ordeiro, organizado por pessoas de todas as classes sociais de nossa cidade:

"Comentário sobre a Sessão extraordinária da Câmara Municipal de Fraiburgo, realizada a partir das 21horas e 15 minutos do dia 01-07-2013).



A SUPOSTA INVASÃO DA CÂMARA


Estava a ponto fazer uma postagem elogiosa aos vereadores de Fraiburgo, por terem reduzido pela metade o valor de suas diárias, quando um amigo me alertou que, antes de fazê-lo, acessasse o áudio da sessão extraordinária em que tal decisão foi tomada.

Não pude fazê-lo de imediato, face os inúmeros compromissos profissionais e, também, porque o referido áudio tem duração de cerca de 1h40min. Somente agora consegui completar a oitiva dele todo, para concluir que, efetivamente, os vereadores não merecem elogio algum.

Senão vejamos: 

A convocação da sessão extraordinária, feita pelo presidente vereador Paulo Santos, traz como justificativa que a sessão ordinária foi “prejudicada por invasão e mau comportamento das pessoas manifestantes”. 

Ora, vereador Paulo, no áudio da sessão ordinária percebe-se, claramente, a voz do vereador Gabriel Fantin propondo que os manifestantes fossem convidados a entrar, para assistirem a sessão. Disse até que a casa era do povo e ali era o local adequado para o exercício da democracia. 

Então, vereador presidente, a sessão extraordinária começou com uma convocação que afronta a verdade. Não houve invasão, mas sim, convite. Ademais, se a Câmara de Vereadores é a Casa do Povo, jamais poderia se falar em invasão do local. Não se pode chamar de invasão quando o dono entra em sua própria casa.

Surpreendeu-me, além da suspensão precipitada da sessão ordinária, a realização de uma extraordinária, horas depois, “depois que os manifestantes tomaram outra direção”, como disse o vereador Paulo Santos.
Nela os vereadores, apesar de recuarem em relação ao valor das diárias, teceram pesadas críticas aos manifestantes e, pasmem, desprezaram o valor recebido, porque dele não precisam.

Então, o certo é devolver o exacerbado valor que receberam, antes que o povo o exija, pelas vias judiciais.



NOSSOS JOVENS NÃO SÃO BADERNEIROS


Surpreendeu-me, ainda, a míope compreensão dos fatos, por parte dos vereadores, que entenderam que os jovens que protestaram dentro do recinto da Câmara não passavam de crianças, que nem sabiam o que estavam fazendo lá (expressões retiradas, em especial, dos discursos dos vereadores Oracir e Gabriel). 

Os jovens de hoje, senhores vereadores, que compõem boa parte do eleitorado, desde cedo tornam-se politizados e bem informados, tendo sido eles os verdadeiros organizadores do movimento que derrubou o valor das diárias, ao qual eu e outras pessoas de mais idade, apenas aderimos. 

Aqueles jovens, vereador Bazuka, ao contrário do que você afirmou, não são “crianças que deveriam estar em casa dormindo”. Não são eles, de modo algum, como ouvi de vários vereadores, baderneiros ou agitadores. Eles fazem parte de uma geração que emerge para exigir uma postura mais honesta de nossos políticos e um comprometimento verdadeiro com as questões de interesse público.

Temos o dever de ouvi-los e respeitá-los, jamais os provocando de forma imotivada, como fez o vereador Gabriel Fantin, ao exigir que retirassem suas máscaras. Era a forma que tinham para protestar, eis que, durante a sessão, lhes estava sendo exigido silêncio. A resposta que você recebeu, vereador Fantin, (tirem as de vocês também), foi mais que merecida.

O mal comportamento que se viu naquela noite, senhores vereadores, foi de vocês, notadamente do Paulo Santos, com aquela história de que “nós vereadores, que já abrimos mão de um salário de R$ 6 mil, que congelamos em R$ 4 mil . . .”. Esses jovens não são fáceis de enganar. Por isso aquela vaia e o coro de “não nos representam”.

As redes sociais, das quais eles participam (também a elas aderi), não são, como disse o vereador França, “o fim da picada, esse maldito facebook”. São o meio deles se comunicarem, se reunirem, protestarem e se organizarem. Venha participar também, vereador França. Você vai gostar.

Tenho muito orgulho da juventude fraiburguense, por isso os acompanhei na manifestação, porque sabia que não se excederiam. Deixaram o recinto da Câmara sem um arranhão, embora o orgulho dos vereadores, pelo visto, tenha sofrido vários. 

Parabéns, jovens de Fraiburgo. Vocês conseguiram. 



OS CIDADÃOS DE MAIS IDADE QUE TAMBÉM PROTESTARAM


Embora tenha participado dos protestos e, consequentemente, também tenha sido gravemente ofendido pelos vereadores, não farei minha autodefesa. Creio que ela está afixada na parede da Câmara Municipal de Fraiburgo, na forma de fotografia, colocada na galeria dos cidadãos honorários, eleito por unanimidade (Decreto Legislativo 12/2003). 

Mas sinto-me no dever de sair em defesa dos demais pais de família, cidadãos cumpridores de suas obrigações, eleitores com direito de exigir no mínimo probidade por parte de seus representantes. O vereador Fantin disse que identificou cerca de uma centena desses, pela janela da Câmara. Entretanto, se tivesse descido como o povo pedia (“vem pra rua”), teria constatado que o número deles era muito maior. 

Vários vereadores disseram, sem citar nomes, que se tratavam de quadrilheiros, que se esconderam atrás de crianças, com a intenção de promover baderna. Dentre os vereadores que disseram isso identifiquei as vozes de Oracir, Paulo, Cersão, Juca, Chico, Bazuka, Osiel, França e Gabriel. Como o áudio da sessão nem sempre identifica cada orador, fica difícil saber quem mais disse esse disparate. O vereador Cersão chegou a dizer, também sem citar nomes, que alguns dos adultos da manifestação não pagam seus impostos. 

Mas é perigoso citar nomes, mesmo que se espere essa coragem de uma pessoa honrada. Isso porque, se citar um nome e não conseguir provar a acusação, o acusador acaba tomando pela cara uma ação indenizatória por danos morais. Daí, minha gente, não haveria majoração de diárias que cobrisse o prejuízo. 

Mas que baixaria, senhores! ! !

Há que se esclarecer que quadrilheiro é quem se reúne para cometer delitos, como, por exemplo, se associar para criar leis e resoluções em benefício próprio, lesando o erário municipal. E sonegador de imposto é quem não paga, por exemplo, o imposto de renda devido sobre diárias que excedam o limite legal de isenção.

Mas não imaginem que estou revidando o insulto. De modo algum desceria ao mesmo nível de tamanhas leviandades. Apenas citei exemplos, na esperança que os legisladores fraiburguenses neles não se enquadrem.

Não obstante, a ira desmedida desses vereadores, por terem sido obrigados a baixar os valores das diárias, desdiz o discurso que atribui pouca importância ao seu recebimento.



Para finalizar, resta-me parabenizar o povo de Fraiburgo pela vitória, especialmente os jovens organizadores do protesto. Mas há muito o que ser mudado, ainda, para melhor, em todas as esferas (municipal, estadual e federal). 


Então, a luta continua. Permaneçamos de olho."


Vamos em frente que a luta continua.

Um comentário:

  1. Reitero, prezado amigo Ari Guindani, a autorização que lhe dei para reproduzir essas minhas palavras.
    Abraços do João Marques.

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