FRAIBURGO

04 fevereiro 2014

Dependência Concomitante de Álcool e Tabaco

Pela importância social que este artigo pode significar na vida de muitas pessoas, suas famílias e amigos, transcrevo aqui matéria importante que baixei do Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein:

Dependência Concomitante de Álcool e Tabaco - Mecanismos e Tratamento

Concurrent Alcohol and tobacco dependence: mechanisms and treatment


David J. Drobes

Moffitt Cancer Center & Research Institute ~ University of South Florida (Tampa)
Alcohol Res Health 2002; 26(2): 136-42



O presente artigo, escrito por David J. Drobes para a revista Alcohol Research Health, periódico oficial do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA), fez uma revisão acerca da dependência de álcool e tabaco. O objetivo do artigo é a busca de achados que apontem para a concomitância do consumo de álcool e tabaco não apenas como mera coincidência, mas sim como comportamentos relacionados e neurobiologicamente embasados.

Há evidencias científicas que indicam uma estreita relação entre o consumo de álcool e tabaco.

Descrição: http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/imagens/shim.gifEvidências acerca da relação entre o consumo concomitante de álcool e tabaco
  1. Pessoas que bebem têm maior tendência ao tabagismo: 90% dos dependentes de álcool fumam, sendo que 70% destes fumam ao menos um maco por dia.
  2. Quanto mais intenso o consumo de álcool, maior o de cigarro.
  3. Indivíduos com ambos diagnósticos utilizam outras drogas com mais freqüência, se comparados com aqueles que utilizam apenas uma delas.
  4. Fumantes bebem mais do que não-fumantes
  5. Fumantes tem uma chance 2,7 vezes maior de se tornarem dependentes de álcool, se comparados aos não-fumantes.
  6. Apesar do declínio do consumo de cigarro na população geral nesses últimos anos, a prevalência de tabagismo entre os dependentes de álcool não se modificou.
A preocupação com o uso concomitante de ambos e particularmente importante: tal combinação aumenta o risco de câncer e doenças cardio-vasculares, mais do que o uso isolado de uma delas. Entre as gestantes, aumenta ainda mais os danos ao desenvolvimento fetal e os déficits cognitivos nos recém-nascidos. O uso combinado na adolescência aumenta a predisposição para o consumo de outras drogas e o surgimento de problemas pessoais e sociais.

A combinação de álcool e tabaco implica em um comportamento complexo, influenciado por fatores genéticos, neurobiológicos, de condicionamento, psicológicos e sócio-culturais. O presente artigo procurou abordar os fatores relacionados as quatro primeiras questões.

Fatores genéticos

A importância dos fatores genéticos no desenvolvimento da dependência concomitante de álcool e tabaco ganhou alguma atenção dos pesquisadores nessa última década. A partir de estudos com gêmeos, com indivíduos adotados e análises epidemiológicas, alguns componentes genéticos da dependência de álcool e tabaco puderam ser identificados.

Estudos moleculares recentes vêm tentando identificar fatores genéticos específicos na base das várias formas de comportamento ligados a dependência. Talvez a maior evidencia da ação dos genes individuais sobre a dependência de álcool e cigarro envolva o sistema de recompensa, de natureza dopaminérgica. Provavelmente, certas variantes dos genes que regulam a atividade da dopamina e seus receptores estejam relacionadas ao risco excessivo do consumo de álcool e tabaco. Apesar de tais achados serem apenas sugestivos, novas técnicas de pesquisa de genética molecular para o entendimento de comportamentos complexos vem progredindo rapidamente e poderão responder questões relevantes na próxima década.

Descrição: http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/imagens/shim.gifNessa nova fronteira, tem-se buscado determinar os endofenótipos de comportamentos relacionados a dependência. Endofenótipo e uma característica objetiva e mensurável do indivíduo que se acredita estar relacionada com sua conformação genética (genotipo). A partir da identificação e replicação de tais achados (endofenótipos) os pesquisadores esperam detectar relações estreitas entre comportamentos ligados a dependência e certos genes. Como isso contribuiria para o tratamento da dependência ainda e alvo de especulações cientificas.

Mecanismos neurobiológicos

Vários mecanismos neurobiológicos estão envolvidos na estreita relação entre as dependências de álcool e tabaco. Ambas parecem aumentar o reforço ao uso continuado nos indivíduos, tanto pela habilidade de uma contrapor, quanto potencializar o efeito da outra. Além disso, o uso combinado de álcool e tabaco talvez produza um efeito de recompensa qualitativamente diferente daquele obtido individualmente.

O desenvolvimento de tolerância aos efeitos prazerosos e aversivos está relacionado ao surgimento e a manutenção da dependência. O primeiro faz com que o indivíduo aumente a dose das substancias para buscar o mesmo efeito que antes obtinha com doses menores. O segundo, libera o indivíduo para a busca de doses maiores, uma vez que se imune aos efeitos indesejáveis das substâncias (ressaca, tontura, moleza, dores de cabeça, ...).

Outra hipótese aponta para o consumo concomitante de álcool (sedativo) e nicotina (estimulante) como uma forma de balancear os déficits trazidos pelo consumo isolado de uma ou outra substância. Esse fenômeno já foi reproduzido em estudos animais e humanos.

Dentro da perspectiva neurológica, o sistema de recompensa ou mesolimbico-mesocortical é fundamental para o entendimento da dependência a qualquer tipo de substância. Esse sistema utiliza a dopamina como neurotransmissor para mediar a comunicação entre os seus neurônios e aqueles de outras regiões do cérebro. Algumas dessas regiões são responsáveis pelos efeitos de prazer obtidos durante o consumo de álcool e nicotina. Desse modo, há motivação para se obter recompensas repetidas a partir do consumo das mesmas.

O sistema de recompensa abrange varias regiões do cérebro, entre elas a área tegmental ventral, o nucleus accumbens e o córtex pré-frontal. Ambos, álcool e nicotina, ativam os neurônios do sistema de recompensa localizados na área tegmental ventral, levando a liberação de dopamina nonucleus accumbens e no córtex pré-frontal.

O uso continuado provoca adaptações no cérebro, levando a sensibilização do circuito de recompensa. Assim, o cérebro se torna "mais atento" e lembra o indivíduo com maior freqüência para a necessidade de obter o efeito proveniente do consumo de álcool e tabaco.

O álcool também atua sobre o sistema opióide endógeno. Esse sistema produz neurotransmissores semelhantes a morfina. Uma vez ativado pelo álcool, produz quadros de euforia, além de estimular diretamente o sistema de recompensa.

Mecanismos de condicionamento

Pertence ao censo comum a idéia de que tanto o consumo de álcool, quanto o de cigarro começam em situações semelhantes (festas, bares, grupos de amigos) e contemporâneas. A recaída após a abstinência de nicotina é francamente motivada pelo consumo de álcool. Isso sugere que ambos encontram-se associados por um processo de condicionamento denominado cue conditioning, isto é, situações previamente relacionadas ao consumo de uma substância (cheiro de cigarro, o rótulo da bebida preferida, propagandas,...) desencadeiam respostas condicionadas, incluindo fissuras e alterações fisiológicas. Por sua vez, essas produzem desconforto, ao mesmo tempo em que apontam para o consumo de álcool e cigarro como a melhor forma de alivia-los. Isso motiva a manutenção do consumo ou leva a recaída.

Fatores psicológicos

Mesmo em estágios iniciais de experimentação (geralmente na adolescência), fatores psicológicos envolvidos na promoção do consumo podem ser identificados.

Características da personalidade que permanecem estáveis durante a vida do indivíduo desempenham um importante papel para o início do consumo de álcool e tabaco. Tais características incluem a impulsividade, a compulsividade e a ansiedade. Há uma base genética para tais comportamentos, capazes de predisporem os indivíduos ao consumo.
Descrição: http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/imagens/shim.gifDescrição: http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/imagens/shim.gif
Outra importante influencia psicossocial provem do modelo familiar. Adolescentes expostos a membros mais velhos da família que fumam e bebem tem maior tendência a repetirem esse comportamento, independente de qualquer influencia genética. A influência dos grupos de convívio (peer presure) também é um fator de risco considerável para o início do consumo de álcool e tabaco.

O consumo concomitante de álcool e tabaco também aparece dentro de estados psicológicos temporários, tais como situações momentâneas de estresse ou emoções negativas. Ele também é maior entre os que possuem transtornos psiquiátricos de base, principalmente os depressivos e ansiosos. Em todos esses casos, o álcool e o tabaco são utilizados, primordialmente, para aliviar tensões ou regular estados de humor (auto-medicação). Desse modo, se apresentam como uma forma maladaptada de agir, encontrada pelos indivíduos para lidarem com algumas situações de vida que se mostram intoleráveis para esses.

Há ainda diversos outros fatores psicossociais empiricamente relacionados ao consumo de álcool e tabaco, tais como estressores psicossociais (perda do emprego ou de um ente querido), suporte social precário, auto-eficácia e habilidades sociais deficitárias, expectativas positivas quanto aos efeitos do consumo, uso de substâncias psicoativas como "lubrificantes sociais", além de outras.

Todos os fatores discutidos nesse artigo não determinam isoladamente o surgimento da dependência, mas sim interagem idiossincraticamente dentro da historia do consumo de álcool e cigarro dos indivíduos, podendo levar parte destes a dependência.

Espero, com este artigo, contribuir para minorar os problemas que a dependência química provoca nas pessoas, principalmente aquelas relacionadas diretamente com a família dos dependentes.

Contem comigo. Sempre!

Abraços

Ari

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