Pela importância social que este
artigo pode significar na vida de muitas pessoas, suas famílias e amigos, transcrevo
aqui matéria importante que baixei do Site Álcool e
Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein
de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein:
Dependência Concomitante de
Álcool e Tabaco - Mecanismos e Tratamento
Concurrent Alcohol and tobacco dependence: mechanisms and treatment
David J. Drobes
Moffitt Cancer Center & Research
Institute ~ University of South Florida (Tampa)
Alcohol Res Health 2002; 26(2): 136-42
O presente artigo, escrito por
David J. Drobes para a revista Alcohol
Research Health, periódico oficial do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA),
fez uma revisão acerca da dependência de álcool e tabaco. O objetivo do artigo
é a busca de achados que apontem para a concomitância do consumo de álcool e
tabaco não apenas como mera coincidência, mas sim como comportamentos
relacionados e neurobiologicamente embasados.
Há evidencias científicas que
indicam uma estreita relação entre o consumo de álcool e tabaco.
Evidências acerca da relação entre o consumo concomitante de álcool e tabaco
- Pessoas que bebem têm maior tendência ao tabagismo: 90% dos dependentes de álcool fumam, sendo que 70% destes fumam ao menos um maco por dia.
- Quanto mais intenso o consumo de álcool, maior o de cigarro.
- Indivíduos
com ambos diagnósticos utilizam outras drogas com mais freqüência, se
comparados com aqueles que utilizam apenas uma delas.
- Fumantes
bebem mais do que não-fumantes
- Fumantes
tem uma chance 2,7 vezes maior de se tornarem dependentes de álcool, se
comparados aos não-fumantes.
- Apesar
do declínio do consumo de cigarro na população geral nesses últimos anos,
a prevalência de tabagismo entre os dependentes de álcool não se modificou.
A preocupação com o uso
concomitante de ambos e particularmente importante: tal combinação aumenta o
risco de câncer e doenças cardio-vasculares, mais do que o uso isolado de uma
delas. Entre as gestantes, aumenta ainda mais os danos ao desenvolvimento fetal
e os déficits cognitivos nos recém-nascidos. O uso combinado na adolescência
aumenta a predisposição para o consumo de outras drogas e o surgimento de
problemas pessoais e sociais.
A combinação de álcool e tabaco
implica em um comportamento complexo, influenciado por fatores genéticos,
neurobiológicos, de condicionamento, psicológicos e sócio-culturais. O presente
artigo procurou abordar os fatores relacionados as quatro primeiras questões.
Fatores genéticos
A importância dos fatores
genéticos no desenvolvimento da dependência concomitante de álcool e tabaco
ganhou alguma atenção dos pesquisadores nessa última década. A partir de
estudos com gêmeos, com indivíduos adotados e análises epidemiológicas, alguns
componentes genéticos da dependência de álcool e tabaco puderam ser
identificados.
Estudos moleculares recentes vêm
tentando identificar fatores genéticos específicos na base das várias formas de
comportamento ligados a dependência. Talvez a maior evidencia da ação dos genes
individuais sobre a dependência de álcool e cigarro envolva o sistema de recompensa, de
natureza dopaminérgica. Provavelmente, certas variantes dos genes que regulam a
atividade da dopamina e seus receptores estejam relacionadas ao risco excessivo
do consumo de álcool e tabaco. Apesar de tais achados serem apenas sugestivos,
novas técnicas de pesquisa de genética molecular para o entendimento de
comportamentos complexos vem progredindo rapidamente e poderão responder
questões relevantes na próxima década.
Nessa nova fronteira, tem-se buscado determinar
os endofenótipos de
comportamentos relacionados a dependência. Endofenótipo e uma característica
objetiva e mensurável do indivíduo que se acredita estar relacionada com sua
conformação genética (genotipo). A partir da identificação e replicação de tais
achados (endofenótipos) os pesquisadores esperam detectar relações estreitas
entre comportamentos ligados a dependência e certos genes. Como isso
contribuiria para o tratamento da dependência ainda e alvo de especulações
cientificas.
Mecanismos neurobiológicos
Vários mecanismos neurobiológicos
estão envolvidos na estreita relação entre as dependências de álcool e tabaco.
Ambas parecem aumentar o reforço ao uso continuado nos indivíduos, tanto pela
habilidade de uma contrapor, quanto potencializar o efeito da outra. Além
disso, o uso combinado de álcool e tabaco talvez produza um efeito de
recompensa qualitativamente diferente daquele obtido individualmente.
O desenvolvimento de tolerância
aos efeitos prazerosos e aversivos está relacionado ao surgimento e a manutenção
da dependência. O primeiro faz com que o indivíduo aumente a dose das
substancias para buscar o mesmo efeito que antes obtinha com doses menores. O
segundo, libera o indivíduo para a busca de doses maiores, uma vez que se imune
aos efeitos indesejáveis das substâncias (ressaca, tontura, moleza, dores de
cabeça, ...).
Outra hipótese aponta para o
consumo concomitante de álcool (sedativo) e nicotina (estimulante) como uma
forma de balancear os déficits trazidos pelo consumo isolado de uma ou outra
substância. Esse fenômeno já foi reproduzido em estudos animais e humanos.
Dentro da perspectiva
neurológica, o sistema de recompensa ou mesolimbico-mesocortical é fundamental
para o entendimento da dependência a qualquer tipo de substância. Esse sistema
utiliza a dopamina como neurotransmissor para mediar a comunicação entre os
seus neurônios e aqueles de outras regiões do cérebro. Algumas dessas regiões
são responsáveis pelos efeitos de prazer obtidos durante o consumo de álcool e
nicotina. Desse modo, há motivação para se obter recompensas repetidas a partir
do consumo das mesmas.
O sistema de recompensa abrange
varias regiões do cérebro, entre elas a área tegmental ventral, o nucleus accumbens e o córtex
pré-frontal. Ambos, álcool e nicotina, ativam os neurônios do sistema de
recompensa localizados na área tegmental ventral, levando a liberação de
dopamina nonucleus accumbens e
no córtex pré-frontal.
O uso continuado provoca
adaptações no cérebro, levando a sensibilização do circuito de recompensa.
Assim, o cérebro se torna "mais atento" e lembra o indivíduo com
maior freqüência para a necessidade de obter o efeito proveniente do consumo de
álcool e tabaco.
O álcool também atua sobre o
sistema opióide endógeno. Esse sistema produz neurotransmissores semelhantes a
morfina. Uma vez ativado pelo álcool, produz quadros de euforia, além de
estimular diretamente o sistema de recompensa.
Mecanismos de condicionamento
Pertence ao censo comum a idéia
de que tanto o consumo de álcool, quanto o de cigarro começam em situações
semelhantes (festas, bares, grupos de amigos) e contemporâneas. A recaída após
a abstinência de nicotina é francamente motivada pelo consumo de álcool. Isso
sugere que ambos encontram-se associados por um processo de condicionamento
denominado cue conditioning,
isto é, situações previamente relacionadas ao consumo de uma substância (cheiro
de cigarro, o rótulo da bebida preferida, propagandas,...) desencadeiam
respostas condicionadas, incluindo fissuras e alterações fisiológicas. Por sua
vez, essas produzem desconforto, ao mesmo tempo em que apontam para o consumo de
álcool e cigarro como a melhor forma de alivia-los. Isso motiva a manutenção do
consumo ou leva a recaída.
Fatores psicológicos
Mesmo em estágios iniciais de
experimentação (geralmente na adolescência), fatores psicológicos envolvidos na
promoção do consumo podem ser identificados.
Características da personalidade
que permanecem estáveis durante a vida do indivíduo desempenham um importante
papel para o início do consumo de álcool e tabaco. Tais características incluem
a impulsividade, a compulsividade e a ansiedade. Há uma base genética para tais
comportamentos, capazes de predisporem os indivíduos ao consumo.
Outra importante influencia
psicossocial provem do modelo familiar. Adolescentes expostos a
membros mais velhos da família que fumam e bebem tem maior tendência a
repetirem esse comportamento, independente de qualquer influencia genética. A
influência dos grupos de convívio (peer
presure) também é um fator de risco considerável para o início do
consumo de álcool e tabaco.
O consumo concomitante de álcool
e tabaco também aparece dentro de estados psicológicos temporários, tais como situações
momentâneas de estresse ou emoções negativas. Ele também é maior entre os que
possuem transtornos psiquiátricos de base, principalmente os depressivos e
ansiosos. Em todos esses casos, o álcool e o tabaco são utilizados,
primordialmente, para aliviar tensões ou regular estados de humor
(auto-medicação). Desse modo, se apresentam como uma forma maladaptada de agir,
encontrada pelos indivíduos para lidarem com algumas situações de vida que se
mostram intoleráveis para esses.
Há ainda diversos outros fatores
psicossociais empiricamente relacionados ao consumo de álcool e tabaco, tais
como estressores psicossociais (perda do emprego ou de um ente querido),
suporte social precário, auto-eficácia e habilidades sociais deficitárias,
expectativas positivas quanto aos efeitos do consumo, uso de substâncias
psicoativas como "lubrificantes sociais", além de outras.
Todos os fatores discutidos nesse
artigo não determinam isoladamente o surgimento da dependência, mas sim
interagem idiossincraticamente dentro da historia do consumo de álcool e
cigarro dos indivíduos, podendo levar parte destes a dependência.
Espero, com este artigo,
contribuir para minorar os problemas que a dependência química provoca nas
pessoas, principalmente aquelas relacionadas diretamente com a família dos
dependentes.
Contem comigo. Sempre!
Abraços
Ari
Nenhum comentário:
Postar um comentário