Rosely Sayão - 19/05/2015
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/2015/05/1630741-castigo-punicao-e-consequencia.shtml
Castigo,
punição, consequência. Essas palavras não saem da cabeça e do vocabulário de
mães e de pais. Por que será que sempre pensamos nelas quando algumas de nossas
atitudes não funcionam com nossos filhos, ou sempre que eles desobedecem às
ordens dos pais, transgridem as regras familiares ou da casa, fazem coisas que
não deveriam ou não fazem as que deveriam?
Talvez porque,
sem reconhecer isso com clareza, consideremos que o sofrimento imposto a eles
seja educativo, quer dizer, que ensine algo. Por isso, vamos refletir a esse
respeito e, principalmente, mostrar as diferenças entre as três palavras.
O conceito de
castigo e de punição são semelhantes: o objetivo dessas ações dos pais são,
sempre, fazer com que o filho -independentemente da idade- sofra e associe esse
sofrimento ao ato que o antecedeu, para não repeti-lo.
O maior problema
do castigo é que quase sempre ele é aplicado aos filhos justamente nos momentos
em que os pais estão bem alterados pelo que o filho fez. Em clima de intensas
emoções, o castigo pode ser exagerado e nem sempre os pais conseguem reverter a
situação, por receio de perder a autoridade.
Dou um exemplo:
a filha de 13 anos de uma jovem mulher abusou do uso do celular e estourou a
conta. A mãe, então, decidiu proibir a ida à festa que a garota esperava
ansiosamente. A mãe arrependeu-se depois, mas aí já era tarde. E, no mês
seguinte, a garota extrapolou a conta novamente, além de cometer outras
transgressões por ter ficado revoltada com a decisão da mãe.
Um outro
problema do castigo é que, em geral, ele não é previamente combinado com o
filho, o que o deixa um tanto quanto perdido. Imagine, caro leitor, você entrar
em um jogo sem saber ao certo as regras dele, tampouco as faltas e as
penalidades correspondentes. Difícil, não é? Pois é isso o que ocorre com os
mais novos: eles podem até saber, em teoria, o que devem ou não devem fazer,
mas sem conhecer o contexto das transgressões vão cometê-las sem considerar as
possíveis consequências e sem avaliar se vale ou não a pena cometê-las.
Castigo e
punição funcionam de vez em quando, mas pouco ensinam porque quase nunca têm
relação com o ato anteriormente praticado. Já a consequência tem um sentido
diferente, justamente porque mostra uma ligação estreita entre o ato e o que
vem após ele. E isso, muitas vezes, é natural, ou seja, a própria vida se
encarrega de aplicar.
Vou voltar ao
esporte: quando um jogador comete uma falta que prejudica o adversário, a
penalidade em geral oferece uma vantagem ao último, o que acaba por prejudicar
também o time do jogador que cometeu a falta. Mas, de vez em quando, o jogador
avalia o risco e comete a falta mesmo sabendo da consequência, por considerar
que vale a pena pagar a penalidade.
A mesma coisa
acontece com os filhos: se há jogo, é de se esperar a transgressão, mesmo tendo
sido tudo previamente combinado.
A vida sempre
ensina que, a cada escolha que fazemos, temos consequências: algumas delas são
benéficas, outras prejudiciais e outras neutras. Os filhos precisam entender
isso, e os pais, que os mais novos nem sempre fazem as melhores escolhas,
porque há motivos e impossibilidades que os levam a fazer as escolhas possíveis
ou desejadas naquele contexto, mesmo que elas tragam consequências ruins.
Educar é ensinar
aos mais novos como a vida é, e não mostrar como vivê-la. É isso que os pais
devem considerar ao aplicar um castigo, uma consequência ou, simplesmente, mostrar
ao filho o que a escolha feita acarretou na vida dele.
Um grande abraço a todos.
Ari
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