FRAIBURGO

15 fevereiro 2010

O Vovô e o Netinho

Domingo pela manhã. Meu netinho André está em minha casa, alegre e contente. Brincando, cantando, pulando, correndo, até que me chamou para brincar com os "joguinhos no computador". Mas tinha um problema. Meu computador não estava em casa. Ele ficou triste e perambulando pela casa até que deu de cara com minha velha máquina de escrever. Veio correndo: vovô... vovô, tem um computador lá naquela sala... vamos jogar os "joguinhos no computador? Vamos?

Tentei explicar que aquela era só uma velha máquina de escrever, mas não tinha jeito. Ele tinha argumento para tudo: este computador do vovô é tão moderno que tem impressora, joystick, não precisa de cabos de energia, dá para levar para o jardim, não precisa de monitor já está tudo embutido. Vamos jogar os "joguinhos no computador" vovô? Vamos?

Como vou explicar para meu netinho que aquela velha máquina de escrever não serve para jogar os "joguinhos no computador"? Como vou explicar que, apesar disso, aquela velha máquina de escrever, foi o começo da minha vida profissional e que foi com ela que paguei minha faculdade, minha casa, comprei meu primeiro carro, criei meus filhos cuidei de minha família e que tive que abandoná-la quando aqui em casa surgiu o primeiro computador? Como vou explicar ao meu netinho que aquela velha máquina de escrever agora não serve para mais nada (???) porque foi ultrapassada pelas novas tecnologias que hoje ele já tem acesso aos 5 anos de idade e que o seu mundo é completamente diferente de quando o seu vovô tinha os mesmos 5 anos de idade? E como será com o seu netinho daqui a 50/60 anos? Qual será o "joguinho"?

Assim, não pude fazer o bastante para lhe agradar e lhe deixar contente com os "joguinhos no computador". Fico te devendo essa meu netinho. Um dia você vai me entender e talvez me perdoar.
São os novos tempos.

Um comentário:

  1. Lindo texto. Parabéns!
    "Nenhum computador levará uma criança ao deslumbramento que ela terá ao encontrar um ovo no galinheiro"... - Danuza Leão - Reportando-se à importância da infância vivida entre coisas simples, como UM QuINTAL na casa de vô, onde tenha um galinheiro tosco com a porta quebrada para que as galinhas corram quando alguém vier pegá-las... onde tenha uma goiabeira de fruta vermelha (de preferência bichada prá vô explicar o por quê daquilo) onde tenha terra batida... e máquina de escrever que nem é tão antigo assim, mas é parte da infância recente de muitos avós...

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