Só vi meu avô, Bernardo Guindani Filho, uma única vez. Eu tinha 6 anos de idade e ele chegou para uma visita no final de tarde, já escurecendo. A imagem que tenho guardada dele é a de um senhor do tipo vaqueiro: chapéu, capa e botas de couro. Andava arqueado pela labuta diária e pelo tempo. Falava baixinho. Já estava bem velhinho.
Meu pai, Armando, me contava que meu avô era um homem muito sofrido, analfabeto, só falava e entendia o idioma italiano e que veio morar em Garibaldi-RS, pensando ser o interior do Estado do Espírito Santo. Era muito pobre. Mudou-se para a região de Sede Sarandi, em Herval do Oeste-SC na época da Segunda Guerra Mundial, fugindo das forças federais, que por decisão superior, não permitiam a utilização, a fala e a escrita de idiomas estrangeiros, especialmente o idioma italiano. Continuou pobre.
Meu avô tinha 14 filhos, e meu pai era o mais novo. Isso quer dizer que eu era um dentre um batalhão de netos que meu avô tinha.
O que mais me marcou desse encontro foi o presente que ele me deu: um mini carrinho, vermelho, com rodinhas de frizo branco. Suas portinhas abriam. Era daqueles que deixam os meninos loucos de felicidades e ficam sonhando com eles por dias a fio.
Deve ter sido muito difícil para ele comprar aquele carrinho. Mas comprou. Porque é que ele lembrou de me trazer um presente? Nunca descobri.
Por muitos e muitos anos, foi o único presente que ganhei. Perdeu-se no tempo. Tenho saudades.
Hoje para a minha alegria, vejo meu único neto, André, com uma imensidão destes carrinhos. É um fanático colecionador. Parece-me o dedo de meu avô influenciando seu destino.
As gerações passam e os sonhos continuam os mesmos. Que bom isso.
Um grande abraço a todos.
Lindo demais esse texto, pai!
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