FRAIBURGO

16 outubro 2017

Desigualdade é Teimosia Social!

Desigualdade não é uma contingência ou um acidente qualquer. Também não é uma decorrência “natural” e “imutável” de um processo que não nos diz respeito. Ao contrário, ela é consequência de nossas escolhas – sociais, educacionais, políticas, culturais e institucionais – que têm resultado numa clara e crescente concentração dos benefícios públicos.

Nossa persistente desigualdade não provoca apenas a acumulação de renda nas mãos de um grupo limitado; faz com que a saúde e a educação de qualidade virem benefícios para poucos. Segundo dados colhidos pelo IBGE, em conjunto com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) – que analisaram as condições de vida dos brasileiros – a fatia da renda nacional apropriada pelos 10% mais ricos caiu nos últimos anos de 46% para 41%. No entanto, o pedaço dos 50% mais pobres cresceu de 14% para 18%.

Já as pesquisas de Marc Morgan Milá, um economista irlandês e discípulo de Thomas Piketty, indicam que os governos brasileiros, na prática, jamais optaram por enfrentar a desigualdade social no Brasil. Segundo o investigador, ela é maior do que se supunha, com uma imensa concentração de renda retida no topo da pirâmide social. Segundo a investigação, o grupo que representa os 10% mais ricos da nossa população acumula mais da metade da renda nacional. Dentre os anos de 2001 e 2015, essa fatia da população teria visto sua renda crescer de 54% para 55%.

Segundo os cálculos de Morgan, a renda apropriada pelos 50% mais pobres também subiu nos últimos anos; de 11% para 12% do total. No entanto, 40% da população brasileira encolheu sua renda de 34% para 32%.

O fato é que os novos estudos confirmam como o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo. Assinalam também o alto grau de concentração econômica. Segundo dados da mesma pesquisa, o estrato mais rico da população, que corresponde a apenas 1% dos brasileiros, abocanha 28% da renda nacional. Realizando um paralelo com outros países, o pesquisador irlandês revelou como nos EUA as elites apreendem 20% da renda e, na França, 11%. E ainda: se na França a renda anual dos grupos que se encontram dentre os mais ricos é inferior a R$ 925 mil, no Brasil, a renda média anual desses setores chega a valores equivalentes a R$ 1 milhão.

Não sou economista, e apenas reproduzo parte destes dados com o objetivo e comprovar como o Brasil – passados quase 30 anos da promulgação da Constituição de 1988, que previu a distribuição da riqueza por intermédio da educação, da saúde, do saneamento – continua sendo um país muito injusto e desigual.

Mais ainda. O que uma série de investigações vêm evidenciando é como a carência no oferecimento de uma educação de base de qualidade tem a capacidade de aguçar a desigualdade e nossa intolerância social. Índices do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do DataFolha mostram que a sociedade brasileira, numa escala de zero a dez, atinge atualmente um índice de 8.1 na tendência a endossar posições mais autoritárias. Segundo Renato Sérgio de Lima, diretor presidente do FBSP, estamos diante de uma maioria que advoga o uso da violência como forma de governo, e, paradoxalmente, julga que essa seria a melhor maneira de “pacificar a sociedade numa espécie de vendeta moral e política”. E quanto menor o índice de escolaridade, maior a aposta em soluções autoritárias e pouco afeitas ao diálogo.

Todos esses dados parecem sinalizar que a resposta para a crise política, econômica, social e cultural em que nos encontramos, só poderá vir de um projeto de nação mais inclusivo e igualitário. A aposta numa formação educacional sólida, ampla e equânime é promessa de futuro  –  bem sei. Mas traz consigo um sopro de utopia que tem a capacidade de abalar o ceticismo que se abateu entre nós. A boa utopia de uma sociedade mais informada, leitora, crítica mas também capaz de dialogar.

A desigualdade deteriora a malha social e tem a capacidade de vilipendiar as nossas instituições republicanas. (Lilia Schwarcz - https://www.nexojornal.com.br/).

Um grande abraço a todos.

Ari

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